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Letras et cetera - Revista Digital
 


O INOMINADO EM SONIA REGINA


Por Fabrício Brandão


 
“Nem sempre há versos à tona”, certa feita clamou a poeta rumo à construção dos seus mais íntimos dizeres. Em meio ao ofício de esculpir sentidos, Sonia Regina ousa, assim, lidar com os próprios desafios de ofertar ao mundo percepções passíveis de se tornarem versos. Suas palavras nos arremessam ao solo complexo dos mistérios com os quais compartilhamos as amplitudes da existência. Não menos importante é a forma como a autora expressa verdades humanas a partir de apelos sensoriais, algo que se transmuta na linguagem do corpo e seus matizes. Noutro ponto, podemos ser fiéis testemunhas das confissões de vida encarnadas num eu que se expande aos quatro cantos da consciência.

Signos de uma natureza presente dentro e fora de nós vêm construir com harmonia o tecido das auroras anunciado por entre os versos de Sonia Regina.  Como quem desfolha o intervalo dos dias, a poeta, aos poucos, sugere-nos um norte, tarefa que aqui nos é revelada pela inexistência do fardo quando o mister é o existir sublime. Eis que a poesia exala, então, um doce e suave canto, prenhe de nos ofertar a instigante confrontação com a alma que habita o fundo de um espelho de nós mesmos.

A percepção e os tons advindos do fazer poético aparecem estreitamente relacionados aos contos da escritora. Sua prosa denota a exuberância presente na aura intimista e introspectiva das personagens. Chama atenção aqui a marca constante das reflexões atinentes ao papel do homem frente aos seus semelhantes, tudo isso muito bem distanciado de qualquer discurso de ordem moral. A temática do amor torna-se argumento de coesão entre os seres, mostrando que até mesmo seus reveses podem assinalar sintomas de cura. Há um ambiente confessional instaurado em seus mais aguçados sinais e o leitor é convidado a integrar esse pacto de escutas.

No ofício hábil de esculpir palavras, há em Sonia Regina a apreensão despretensiosa de uma verdade comum a todos nós, a de que somos feitos bem mais do que aquilo que se encerra em nossos domínios visíveis. Esse algo mais nunca se cansa de enviar seus vestígios e nos põe em xeque à medida que tentamos decifrá-lo com miopia e avidez.



Fabrício Brandão dedica-se às Letras, à Comunicação e edita a Revista Eletrônica Cultural Diversos Afins. Recentemente, estreou em livro através da publicação “Diálogos – Panorama da Nova Poesia Grapiúna (Ed. Editus – 2009”.

 

 
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